A sexualidade feminina é marcada por diversos tabus que frequentemente impedem as mulheres de falarem sobre isso, e de buscarem compreender melhor sobre o próprio corpo, suas fases, emoções e tudo o que compreende esse universo, a princípio individual, mas que em algum momento também encontra o coletivo. Tabus que começam em casa, principalmente quando as mulheres chegam à puberdade, e se arrastam por toda a vida, perpetuados pela mídia e pelas convenções sociais ainda fortemente arraigadas nos princípios patriarcais que reprimem a sexualidade feminina. Fatalmente, a liberdade das mulheres em fazer suas escolhas na esfera da sexualidade ainda é muito usada como motivação para a violência contra elas.
Mas na Marcha das Margaridas qualquer tabu acerca desse tema tão importante é quebrado, e a defesa pela autonomia e liberdade sexual das mulheres do campo e da cidade é pautada no debate das Margaridas e na mobilização política que realizam, assim como o combate a todas as formas de violência que se caracterizam nesse e em outros contextos.
A autonomia e liberdade sexual fazem parte da luta dos movimentos feministas há muitas gerações, e graças às mulheres que assumiram essa luta no passado, avançamos em alguns aspectos, como por exemplo, a possibilidade de fazer escolhas relacionadas ao direito sexual e reprodutivo, como o uso da pílula anticoncepcional ou outros métodos contraceptivos. Mas ainda há pautas nesse sentido que demandam mais luta das mulheres, como o direito de escolher sobre a manutenção ou interrupção de uma gravidez, questão que hoje, em muitos países, entre eles o Brasil, ainda cabe ao Estado decidir.
Para além de questões sexuais, a autonomia e liberdade se refletem ainda em outros momentos da vida, como nas escolhas educacionais e profissionais, de estilo de vida, entre outros setores pessoais. Por pressão da sociedade vinculada a critérios e padrões patriarcais, muitas mulheres se frustram de assumir suas identidades e de caminhar para suas escolhas, pelo receio do julgamento que são expostas diante de certas escolhas que cabem só a elas, mas que a sociedade insiste em interferir. Nesse sentido, é importante o empoderamento feminino para quebrar os padrões que impedem as mulheres de se sentirem confortáveis para fazer escolhas.
As questões da sexualidade feminina figuram ainda nas motivações para diversas formas de violência. O primeiro tipo de violência à sexualidade que normalmente vêm à tona quando falamos desse assunto é o estupro, crime bárbaro de violação sexual, que ainda figura estatísticas altíssimas no Brasil, e envolve não só mulheres adultas, mas também crianças e adolescentes, que muitas vezes encontram o abuso sexual dentro de casa ou no meio social onde convivem. Isso preocupa muito as Margaridas, e sobre tal elas cobram providências do poder público, para conscientização social do problema e punição severa desse ato que fere não somente o corpo, mas também o psicológico e a dignidade das mulheres que sofrem tal abuso.
Outro recorte que cabe na discussão sobre a sexualidade, e que é tema da Marcha das Margaridas, é a orientação sexual das mulheres e a liberdade de escolha com quem elas desejam se relacionar, sem que se questione se é com pessoas do sexo oposto, do mesmo sexo ou ambos. E também a compreensão do que é a identidade de gênero e do fato que há pessoas que não se identificam com o gênero que nasceram, e não se encaixam no padrão Homem e Mulher que é imposto socialmente. A tudo isso, cabe sobretudo o respeito às escolhas de cada pessoa, e o combate a todas as formas de violência contra o que está fora do padrão.
É com grande angústia e preocupação que as Margaridas vêm as conquistas do feminismo sobre esses e outros temas, batalhadas por tantos anos, perdendo força e retrocedendo diante de uma conjuntura política de extrema direita que governa o Brasil hoje. Declarações machistas vindas do presidente e outros representantes do governo se tornam cada vez mais perigosas para a vida das mulheres na sociedade. Teme-se o aumento da violência sexual e outras formas de violência, e do fatal feminicídio, em um país onde as estatísticas já são altas e desesperadoras.
Para a coordenadora de Políticas para Mulheres da COPROFAM, Florinda Silva, do Paraguai, que estará em agosto em Brasília marchando com as Margaridas, não se pode desanimar frente as dificuldades que o atual cenário coloca: “ A luta que as Margaridas protagonizam há anos está mais difícil, frente a essa conjuntura de extremismo e violência. Mas isso não deve nos desanimar, e sim nos dar mais força para não perder o ritmo de luta. Precisamos manter esse ritmo e potencializá-lo, fortalecendo-o com a nossa voz e os nossos desejos de construir uma sociedade melhor e mais segura para as mulheres. Nossa voz é importante, nós temos valor. Força, Margaridas!”.
A Marcha das Margaridas é a maior ação de mulheres da América Latina. E é realizada pela CONTAG, Federações e Sindicatos de Trabalhadores(as) Rurais, com o apoio de várias organizações parceiras.
#MarchadasMargaridas2019
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FONTE: Comunicação Marcha das Margaridas 2019 - Gabriella Avila |