A educação deve ser vista como uma ferramenta de mudança e facilitar o acesso a todos deve ser uma prioridade. Pensando nisso, uma das formas que a Universidade Estadual do Piauí (UESPI) encontrou de levar o ensino para locais que não possuem esse contato direto com a educação, foi através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) e de convênio com Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí (Emater) e da Pastoral da Terra. O Programa capacita educadores para atuar nos assentamentos e coordenadores de atividades educativas comunitárias para as respectivas disciplinas. A universidade entra, então, com um papel de executora, com a colaboração de professores da instituição e professores que são ligados a movimentos sociais.
Não à toa, a primeira turma escolheu se chamar "Semeadores de Sonhos", já que acreditam que através da formação é possível levar a alfabetização e escolarização a milhares de jovens e adultos trabalhadores das áreas rurais, com um olhar específico para a realidade do campo. Maria Barros é uma das pessoas que obteve a primeira graduação em Pedagogia da Terra. Ela foi aluna do programa e será professora. A oportunidade de concluir um curso superior é vista, para ela, como única.
"Venho de uma família de nove irmãos e estou muito feliz. Fui a primeira da família a conseguir se formar e chegar à Universidade. Com relação ao curso, achei a oportunidade de fazer uma licenciatura em Pedagogia para poder contribuir com a educação do campo e anseio levar educação contextualizada com as especificidades", relata.
Lucineide Barros foi professora da turma de pedagogos da Terra e explicou a especialização dos novos profissionais. "Está previsto, desde 1996, que as escolas do campo devem ter professores especializados com a cultura campestre, respeitando a vivência de quem tem a rotina de ir para a roça e uma religiosidade muito forte", disse.
Os professores de escola do campo terão um trabalho de acordo com a especificidade do território, o jeito de produzir. "As pessoas que moram no campo têm suas próprias vivências. É diferente de quem mora na zona urbana. Geralmente, quem é do campo não tem vizinhos próximos. Eles têm também suas próprias religiosidades, muito fortes. Então, o profissional precisa entender esses aspectos da vida no campo e ensinar as crianças a partir deles", explicou Lucineide Barros.
A turma é composta por trabalhadores rurais, em sua maioria de assentamentos de terras de municípios como Pio IX, Barras e outros. A conquista pelo direito à educação no campo vem com muita luta, e foi justamente assim que diversos alunos ingressaram no curso, através de batalha e estudo para ser classificado no vestibular. Muitos deles hoje contemplam a vida e as oportunidades que o projeto pode beneficiar.
Histórias como a da aluna Lilian Barroso, 39 anos, de Palmeirais, são prova disso. Ela entende que a qualificação é necessária.
"O curso representa a conquista de fazer a diferença no campo. Foram 4 anos de aulas presenciais, duas vezes por semana, e foram momentos de lutas, conquistas e aprendizado", confessou Lilian.
Fonte: MeioNorte.com