“Margaridas na luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência”
A Marcha das Margaridas não é apenas uma manifestação – ainda que seja a maior manifestação de mulheres da América Latina. Ela é também um extenso e profundo processo de formação e de conscientização de milhares de mulheres do campo, florestas e águas, assim como das cidades, sobre temas fundamentais de suas vidas.
Esse processo tem como base a realidade dura e viva dessas mulheres: de que maneira as mudanças políticas, econômicas e sociais impactam no cotidiano de cada uma. Nos últimos quatro anos, a democracia sofreu um golpe que resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff, com o objetivo de impor a pauta neoliberal que aumenta a concentração de renda, aumenta a desigualdade, aumenta a pobreza, ao mesmo tempo em que diminui as oportunidades dos milhões de pessoas pobres e esquecidas do Brasil.
A PEC do Teto dos gastos, a reforma trabalhista, a reforma da previdência, a estagnação de Conselhos, Conferências e outras instâncias de participação popular, o fim o Ministério do Desenvolvimento Agrário, cortes enormes nas políticas de educação do campo e para o campo, o aumento dos números de violência contra a mulher… Esse cenário devastador foi profundamente debatido pela CONTAG e entidades parceiras da Marcha e foi a base do lema deste grande processo: “Margaridas na luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência”.
“Através do lema, a Marcha das Margaridas diz para a sociedade e para o mundo o que motiva as mulheres do campo, das florestas e das águas para marchar. O lema aponta a direção da nossa Marcha. É preciso saber para quê marchamos e nosso lema nos lembra que, em 2019, as margaridas marcham para defender e construir um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência. O nosso lema fala de valores comuns que justificam a nossa ação coletiva, a nossa marcha!”, afirma a secretária de Mulheres da CONTAG e coordenadora da Marcha das Margaridas, Mazé Morais.
Para compreender melhor nosso lema, precisamos saber o que cada um desses eixos significam para as Margaridas. Vamos lá?
Soberania popular
É a defesa de que o povo participe efetivamente da tomada de decisões importantes para o País, com possibilidade de expressar suas opiniões e vontades, por meio da democracia representativa e participativa.
Para as Margaridas, a participação do povo é fundamental para que seus interesses sejam realmente atendidos. É preciso que nossos representantes (presidente, deputados(as) e senadores(as)) ajam para que as necessidades da população sejam ouvidas e consideradas, e não apenas os interesses do mercado e empresários.
Democracia
A democracia é uma forma de governar em que o poder de decisão, ou seja, a soberania, deve ser do povo. Atualmente, a democracia brasileira é representativa, ou seja, nós elegemos cidadãos e cidadãs para gerir o Estado e formular leis que contribuam para o bem-estar da população e desenvolvimento do País.
As Margaridas defendem a democracia representativa e participativa, ou seja, em que representantes da sociedade possam, junto aos governos e instâncias legislativas, garantir que as necessidades da população sejam, pelo menos, ouvidas. Essa participação pode ser feita por meio de Conselhos, Conferências, ouvidorias, audiências públicas, mesas de diálogo, por exemplo.
Igualdade
São diversas as desigualdades existentes no Brasil ainda hoje: entre mulheres e homens, entre brancos e negros, entre jovens e velhos, entre ricos e pobres, entre heterossexuais e homossexuais, e outras mais, infelizmente. Essas desigualdades são consequência não apenas da má distribuição dos recursos econômicos, mas também da estrutura patriarcal e de questões históricas de dominação e opressão de determinados grupos sobre outros.
As Margaridas acreditam que todas as pessoas devem ser respeitadas em seus direitos e deveres de forma igual, e que aquelas que são prejudicadas pelas desigualdades tenham acesso a medidas e políticas públicas que diminuam e acabem com as diferenças injustas.
Justiça
A justiça verdadeira não existe sem igualdade. Se todos somos iguais perante a lei, crimes cometidos por grandes empresários e políticos do colarinho branco deveriam ser punidos com o mesmo rigor daqueles cometidos por pessoas sem poder econômico, por exemplo. Mas, no Brasil, mais de 61,7% dos presos são homens negros, a maior parte deles jovens – da população carcerária, 55% tem entre 18 e 29 anos, de acordo com o Infopen, um sistema de informações estatísticas do sistema penitenciário brasileiro desenvolvido pelo Ministério da Justiça.
Outro exemplo de injustiça são as que acometem às mulheres no mundo do trabalho. A primeira é o fato de acumularem as obrigações dos empregos (ou da produção) e as tarefas domésticas e cuidado dos filhos. A segunda é que as mulheres ganham menos que os homens mesmo que exerçam as mesmas funções. Se a mulher for negra, a diferença é ainda maior.
É preciso justiça para acabar com as distorções sociais provocadas pela discriminação, racismo, machismo e todo tipo de preconceito e ignorância.
Não Violência!
A violência física é apenas a mais visível das violências sofridas por mulheres em todo o País. Há também a violência psicológica, a violência causada pela discriminação no mercado de trabalho, a violência sexual, a violência obstétrica (aquela sofrida pelas mulheres em seus processos de gravidez e parto), a violência sofrida ao lutar pela terra, pelo direito a produzir alimentos saudáveis, entre, infelizmente, muitos outros tipos. As margaridas do campo, florestas e águas lutam pelo fim de todos os tipos de violência.
“Um dos meios de manter o poder é o uso da violência. Por isso, ao lutar por igualdade, a Marcha das Margaridas luta pelo fim da violência, pois a violência é um mecanismo de manutenção da ordem e de perpetuação das desigualdades, e são as mulheres, a população negra, a população LGBTI e a população rural as mais atingidas”, destaca Mazé Morais.
Por isso, devemos ter sempre em mente o lema da Marcha das Margaridas 2019 para compreender cada passo dado nessa etapa da história da luta do Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares.
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FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG – Lívia Barreto |
O lema da Marcha indica a direção para onde queremos ir
- 16 de julho de 2019