A estudante Camila Coelho foi aprovada para o curso de Medicina da Universidade Federal do Piauí (UFPI) por meio do Sisu. Ela mora com a família na localidade Furta-lhe a Volta, na zona rural do município de Ipiranga.
Camila tem 19 anos, é filha do casal de agricultores José Galeno de Moura Brandão (50) e Cleudimar Rodrigues (40). A estudante conta que sempre estudou em escolas públicas, concluiu o ensino médio na Unidade Escolar São Joaquim Rufino do Rego, passou em 2016 para o curso de Direito e chegou a estudar na Uespi, em Picos, e no ano seguinte foi aprovada no mesmo curso na UFPI, para Teresina.
“Mas meu sonho era mesmo o curso de Medicina. Só fiz Direito para poder morar nas cidades onde tinha melhor acesso aos estudos, principalmente por causa da internet, pois não podia pagar cursinhos preparatórios, só participei dos cursos oferecidos pelo governo, por meio da Seduc. Eu estudava pelas plataformas digitais”, diz Camila. Ela acrescenta que a mãe também não deixaria ela morar em uma cidade grande se não fosse para estudar, e que até as aulas do Corujão assistia pela internet.
Gilberto Vieira da Silva, 31 anos, morador da localidade Veredão, tem cinco irmãos, sempre estudou na rede pública e também é filho de agricultores do município de Ipiranga. Beneficiário do CAF, Programa de Crédito Fundiário, coordenado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural (SDR) e pelo Banco do Nordeste, conta que em uma das tentativas, conseguiu passar para Medicina Veterinária, mas não tinha condições financeiras de fazer o curso na cidade de Bom Jesus.
Este ano ele conseguiu aprovação no Sisu para cursar Direito na Uespi. “Fui aprovado para o campus de Picos, que é mais viável, e no curso que desejava. Vou poder trabalhar, continuar ajudando minha família na roça e ir para a universidade. Tudo que aconteceu comigo e outros estudantes oriundos da agricultura familiar, é prova de que não devemos querer ser o melhor, mas sim cada vez melhor, dar o nosso máximo, sempre”, ressaltou Gilberto
Norberto Vieira da Silva, secretário da Juventude e Políticas Agrícolas do STTR local e suplente da diretoria da Fetag-PI, e que também é estudante da Universidade Federal do Piauí, do curso de Licenciatura em Educação no Campo, voltado para o jovem da zona rural, com objetivo de fortalecer as ações no campo, destaca a aprovação dos conterrâneos.
“É uma grande vitória para as comunidades rurais, ter dois jovens de Ipiranga, que passaram para universidades públicas, nos dois cursos mais concorridos, sem nunca ter estudado em colégio particular. São filhos de agricultores, que sempre tiveram seus direitos negados, certamente é uma grande conquista e orgulho para todos nós que somos piauienses”, concluiu Norberto.
Fonte: 180 graus